quinta-feira, 19 de maio de 2011

Takashi Miike economiza sangue e lutas em 'samurai 3D' (Postado por Erick Oliveira)


Batizado em inglês como "Hara-kiri, the death of a samurai", o filme é adaptação de uma história homônima de Yasuhiko Takiguchi, ambientada no século XVII, conhecido como o período Edo, quando diversos samurais ficaram desempregados por conta do final dos tempos de guerra de territórios.
O período de decadência faz com que diversos ronins (samurais que se desligaram de seus mestres) se apresentassem diante de outros senhores feudais pedindo permissão para cometerem diante deles o hara-kiri, o suicídio ritual dos japoneses. Cada vez mais, no entanto, a oferta vinha se tornando apenas mais um blefe dos ronins para comover e arrancar dinheiro dos senhores.
Desesperado para comprar remédios para a mulher e o filho adoentados, o jovem Motome resolve tentar o truque na fortaleza de Kageyu, mas o mestre resolve testar o blefe e permite que o rapaz cometa o hara-kiri.
A cena, mostrada logo na abertura de "Ichimei" e amplificada pelo recurso do 3D, é de um impacto brutal. Sem a sua espada de verdade - que vendeu para ajudar a sustentar a casa -, Motome é obrigado a abrir a barriga com uma espada feita de bambu.
Prato cheio para os fãs do cinema frequentemente violento de Miike, a sequência não representa, contudo, a atmosfera geral do filme. Daí em diante, o cineasta fará uma digressão melodramática para explicar como Motome chegou até ali e de que forma será a vingança de seu padrasto Hanshiro - interpretado por Ebizio Ichikawa, ator famoso da TV japonesa, que estrelava o seriado "Musashi".
Menos exibicionista do que se poderia esperar, Miike faz um uso econômico do 3D, destacando principalmente a profundidade de campo dos planos e os infinitos detalhes dos cenários e figurinos reconstitutídos com precisão histórica. Nas cenas de ação, que só chegam lá para o final do filme, quase nenhuma gota de sangue é derramada.
"Nosso herói não mata ninguém. A ideia não é de vingança, mas de questionar o código de honra do senhor feudal e dar uma lição a seu clã sobre o que é a verdadeira filosofia samurai", defendeu a roteirista Kikumi Yamagishi, durante entrevista nesta quinta-feira em Cannes.
Mas, de acordo com Miike, que filmou tudo usando câmeras 3D, a opção por uma história mais poética e com menos lutas também teve um motivo prático. "Não tem tantas batalhas porque cenas de lutas em 3D são extremamente demoradas para filmar", explicou. Para o diretor, "Ichimei" foi ainda uma boa oportunidade para testar outros gêneros com a nova tecnologia. "Até agora, os filmes em 3D lançados foram sempre de aventuras ou histórias fantásticas. Então por que não mostrar coisas diferentes e mais próximas da realidade em 3D", questionou.

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