terça-feira, 22 de novembro de 2011

Diretor de novo 'Missão impossível' promete ação com drama pessoal (Postado por Lucas Pinheiro)

O diretor Brad Bird está acostumado a lidar com estrelas de Hollywood, como um rato metido a cozinheiro e uma família de super-heróis. Mas nada comparado ao que enfrentou este ano: um super-astro que não gosta de dublês e arrisca a própria pele escalando o maior prédio do mundo.

No caso, o ator é Tom Cruise e, a cena, é de “Missão impossível – Protocolo fantasma”. O quarto longa de ação inspirado na série de espionagem é o primeiro do cineasta com atores de “carne e osso”. Antes, Bird trabalhou apenas com animações – e que animações! Além de ter trabalhado em “Os Simpsons”, o americano de 54 anos é um dos grandes nomes da história da Pixar e ganhou dois Oscars por “Os incríveis” (2004) e “Ratatouille” (2007), os quais dirigiu e escreveu.

"Protocolo fantasma" traz novamente Cruise no papel do agente Ethan Hunt. Em missão secreta na Rússia, ele vê o Kremlim ser alvo de uma explosão e o governo russo culpa a agência governamental IMF (Impossible Missions Force) pelo ato, o que leva o presidente americano a iniciar o protocolo que dá nome ao filme. Deixado sem qualquer recurso ou apoio, Hunt busca limpar o nome da agência e prevenir um novo ataque ao lado de colegas fugitivos, cujo passado não conhece.

Em entrevista por telefone ao G1, Brad Bird fala sobre o novo “Missão impossível”, que estreia em 21 de dezembro, o mundo da animação e uma possível sequência de “Os incríveis”. Ele também comenta o cinema de Hollywood e a filosofia de trabalho deixado por Steve Jobs. Leia a conversa abaixo.

G1 - O senhor não é o primeiro diretor da Pixar que lança um filme fora da animação, não?
Brad Bird - Fora eu, acho que apenas o Andrew [Stanton, de “Procurando Nemo” e “WALL-E”]. Ele fez “John Carter” [primeira produção da Pixar que não é animação], que está saindo em março.

G1 -  Trabalhar em “Missão impossível” significou sair da zona de conforto?
B.B. - Acho que é importante tentar sempre, independente do que estiver fazendo. É bom sempre aprender. Acho que tem mais a ver com querer contar uma variedade de histórias que me desafiem. Mas claro que estou fora de onde fico mais confortável, o que eu não quero dizer é que estou fora da animação hoje. Não estou.

G1 - Trabalhar com atores reais e diversos cenários externos (Dubai, Praga, Moscou, Mumbai e Vancouver) foi mais desafiador?
B.B. Foi mais desafiador e difícil, porque era um filme muito grande e com uma agenda bem apertada. Mas eu tive uma fantástica lista de colaboradores em frente e fora das câmeras. Nosso elenco tem atores como o Tom Cruise, Simon Pegg, Jeremy Renner... E pessoas na produção como o diretor de fotografia de “Sangue negro”, o editor do primeiro “Star wars” e o cara que fez as roupas de “Blade runner”... Até o final da piramide eu trabalhei com pessoas que admiro, do alto calibre.

G1 - Brian De Palma, John Woo e J.J. Abrams, os últimos diretores de “Missão impossível”, têm estilos bem definidos. O senhor consegue definir o seu?
B.B. - Não sei dizer, terei de perguntar para quem tem um ponto de vista externo. Meu estilo não tem uma referência exata, vou naquilo que acho mais legal. Sobre os filmes passados, John Woo é mais ligado a ação enquanto o Brian De Palma fez cenas muito marcantes: a do Ethan [Hunt] de preto, descendo pelo cabo, é a minha favorita de todos os tempos! Mas o filme de J.J. é o meu preferido de todos porque ele teve uma impressão muito bacana sobre a vida pessoal do personagem, ele entra em sua vida. É uma mistura que quis fazer: misturar a boa ação e as cenas marcantes dos dois primeiros filmes com um pouco mais de desenvolvimento do personagem  que teve no último.

G1 - O filme foi rodado com câmeras iMAX. Foi uma opção sua, inclusive a de usá-las nas cenas externas no prédio mais alto do mundo, o Burj Dubai, em Dubai?
B.B. - Nem tudo foi feito em IMAX, só cerca de meia-hora, 1/4 do filme. Eu escolhi a tecnologia e levei a ideia para o Tom, J.J. e Byan Burk, que são os produtores. Eles gostaram muito da ideia, de renovar o filme e fazê-lo especial. Esse é o “Missão impossível “mais externo e pareceu bacana dar um empurrão extra nas filmagens externas. São câmeras super pesadas, difíceis de trabalhar, mas que deixam a imagem tão limpa na tela que parece que ela o engole. Precisava de uma experiência maior do que a vida.

Sobre filmar no prédio, a ideia surgiu de J.J., de Tom e dos escritores antes de eu entrar no projeto. Quando soube foi logo um dos motivos que me fizeram querer fazer o filme, parecia algo muito louco e memorável de se fazer. Senti-me honrado em fazer esse tipo de sequência porque não imagino que alguém vá fazê-la novamente. Tivemos uma colaboração impressionante da população de Dubai, pudemos ficar lá em cima por dias, com câmeras pesadas e com uma estrela dispensando dublês... Isso jamais se repetirá.

G1 - Sempre há boatos de que “Os incríveis” terão uma sequência. Isso realmente pode acontecer?
B.B. - As pessoas falam sobre isso desde que o primeiro saiu. E sempre disse que dependerá de uma história que seja tão boa quanto a primeira. O modelo de ouro para mim são as duas sequências de “Toy story “. Se eu puder vir com algo tão bom quanto esses dois ficaria muito feliz, pois amo aqueles personagens. Mas não há nada do momento.

G1 - O senhor é crítico quando dizem que Hollywood se inspira na Pixar. Por quê?
B.B. - Eu acho que Hollywood gosta de imitar a superfície [da Pixar]. Hollywood é muito mais confortável generalizando, em imitar a superfície em vez da metodologia. Em outras palavras, vão tentar imitar os filmes e não emular o ambiente que existe por trás deles. Hollywood cria pessoas bastante criativas, mas as deixa sozinhas quando elas não começam a apresentar resultados.
Quando fizemos “Ratatouille”, “Up – Altas aventuras” e “WALL-E”, todos consideraram que seriam trabalhos desastrosos assim que a história foi divulgada para a imprensa. Diziam que seria um “flop” um filme de um rato cozinhando. Não foi. “Mas o outro não terá quase diálogos e falará sobre um robô num mundo pós-apocalíptico...” E foi melhor! Daí veio “o do velho com uma criança aprendendo a lidar com a morte de alguém...”

O que quero dizer é que a Pixar sempre encoraja a tentar algo novo e a seguir a sua paixão, mas sempre nos limites do padrão. Você mexe na história inúmeras vezes até sentir que ela esteja no caminho certo. Hollywood não gosta desse risco, prefere imitar o que já foi feito do que pôr o pescoço à mostra. A gente não.

G1 - Esse pensamento da Pixar tem a mão de Steve Jobs?
B.B. - Claro que sim, adorei ter trabalhado com ele, sua morte nos afetou muito. Ele é muito responsável por parte disso. Você é uma pessoa sortuda quando pode trabalhar com alguém visionário e na Pixar havia três que conseguiram se reunir e montar uma empresa. O que não era convencional foi o que os levou para frente; algumas ideias que eles perseguiam seriam mortas por outros estúdios.

G1 - Como o senhor escreveu aquela cena de “Ratatouille”, a do flashback do crítico de gastronomia? Para muita gente ela resume o filme.
B.B. - Originalmente, o flashback era do [chef] Gusteau. Ele estava vivo na história original e estava atrás de algum tipo de comida que o tocasse emocionalmente de novo. Quando entrei no projeto vi que estava errado, que eu tinha de fazer o personagem morrer, mas voltar como parte da imaginação de Remy. Em relação à epifania final, me pareceu que ela devia ser do crítico, pois fazia um tempo que ele tinha experimentado alguma comida que o tivesse impactado e saber do rato/cozinheiro foi algo que o fez repensar muito em seu trabalho. Então essa cena existia de alguma forma, mas ela não tinha uma força por trás dela.

G1 - O senhor pretende voltar a trabalhar com desenhos?
B.B. -  Estou interessado nos dois [formatos], amo cinema. Tenho sorte de trabalhar na mídia que amo. Para mim, animação ou filmagem são apenas parte de contar uma história.

G1 - O senhor dirigiu o videoclipe de “Do the Bartman”, música que Michael Jackson fez para "Os Simpsons" em 1990. Como foi essa experiência?
B.B. - Sim, eu que fiz, há muito tempo! Foi a cena que fiz mais rápido na vida, durante duas semanas ao lado de pessoas que não falavam inglês. [risos] Foi difícil no começo, mas depois se mostrou muito divertido!


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